E estudos sobre o vazio – Uma viagem sonora aos limites da ausência
Com uma sonoridade que se aproxima do silêncio e desafia os conceitos tradicionais de melodia e harmonia, a obra “E estudos sobre o vazio”, composta por Beatriz Ferreyra em 1976, é um exemplo marcante do experimentalismo musical. Este mergulho na abstração sonora convida o ouvinte a confrontar suas próprias percepções sobre a música, questionando os limites entre o audível e o inaudível.
Beatriz Ferreyra (1934-2019) foi uma figura central na cena da música experimental francesa. Nascida em Buenos Aires, Argentina, ela se mudou para Paris nos anos 60 e logo se envolveu com o Grupo de Pesquisa Musical, liderado por Pierre Schaeffer, pioneiro do musique concrète.
O musique concrète era um movimento inovador que utilizava sons gravados da vida real como matéria-prima para a composição musical. Ferreyra absorveu essa abordagem radical, explorando as possibilidades de manipulação e transformação sonora. “E estudos sobre o vazio” é uma obra emblemática dessa fase, onde ela busca explorar o limiar entre o som e o silêncio, utilizando técnicas avançadas de gravação e edição.
A peça consiste em uma série de texturas sonoras minúsculas, quase imperceptíveis, que se acumulam lentamente ao longo do tempo. Ferreyra utilizou gravações de ruídos cotidianos – sussurros, respirações, batidas leves – que foram processadas eletronicamente para criar um efeito onírico e quase transcendental.
Ao longo dos 20 minutos de duração da obra, a audição se torna uma experiência contemplativa. A ausência de melodias tradicionais ou ritmos definíveis força o ouvinte a prestar atenção aos detalhes mais sutis da sonoridade: a textura granular dos ruídos, as variações sutis de timbre e intensidade.
A intenção de Ferreyra não era criar uma música agradável no sentido convencional do termo. Em vez disso, ela buscava provocar uma experiência sensorial única, levando o ouvinte a questionar os seus próprios limites de percepção sonora. “E estudos sobre o vazio” é uma obra que desafia as expectativas e abre portas para novas formas de entender a música como um meio de exploração artística.
Para melhor compreender a estrutura da peça, podemos dividi-la em três seções principais:
- Primeira seção: Início gradual com ruídos sutis e imperceptíveis. A sensação é de vazio, mas com uma leve presença sonora que evoca a quietude de um espaço imenso e silencioso.
Tempo | Descrição Sonora |
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0'00" - 3'00" | Ruídos de respiração em baixa intensidade, quase imperceptíveis, misturados com texturas granulares leves. |
3'00" - 6'00" | Introdução sutil de sussurros distantes, como se viessem de longe, criando uma sensação de mistério e espaço infinito. |
- Segunda seção: Introdução de elementos rítmicos minimalistas. Os ruídos se tornam mais definidos, com a presença de batidas leves e repetitivas que evocam um pulsar sutil.
Tempo | Descrição Sonora |
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6'00" - 12'00" | Batidas leves e repetitivas combinadas com ruídos metálicos que lembram o eco de uma gota de água em um recipiente vazio. A sensação é de uma paisagem sonora minimalistas, onde cada elemento tem seu próprio espaço e tempo. |
12'00" - 15'00" | Intensificação gradual dos elementos rítmicos, com a introdução de novos sons que se entrelaçam com os já existentes. |
- Terceira seção: Climax sonoro seguido por um desaparecimento lento. Os elementos sonoros atingem sua máxima intensidade e densidade antes de gradualmente diminuírem em volume até retornar ao silêncio inicial.
Tempo | Descrição Sonora |
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15'00" - 18'00" | O ritmo se torna mais evidente, com a presença de batidas mais definidas que se misturam com os ruídos de respiração e sussurros, criando uma atmosfera densa e hipnótica. |
A experiência de ouvir “E estudos sobre o vazio” é subjetiva e depende da sensibilidade individual de cada ouvinte. Alguns podem encontrar a peça perturbadora ou frustrante por sua aparente falta de estrutura e melodia tradicionais. Outros, no entanto, podem se conectar com a beleza singular da sonoridade minimalista e a profunda introspecção que ela provoca.
É importante lembrar que a música experimental busca romper com as convenções estéticas tradicionais, convidando o ouvinte a embarcar em uma jornada sonora única e pessoal.